domingo, 26 de setembro de 2010

Máquinas de costura e câmeras digitais

Era uma vez uma vovó e sua netinha, a Alice. A vovó era costureira, sempre foi. Desde 1951, quando herdou de sua mãe a velha máquina de costura, ela a utiliza para trabalhar. No mês passado, dia 10, a Alice completou quinze anos. Sua avó lhe deu de presente um lindo vestido rodado de seda, cor lilás, bem acinturado. Alice, menina simples, usava em sua festa, feliz da vida, o vestido de seus sonhos.

Corta.

Quando Alice ganhou o vestido de sua avó, imagine o que ela disse. Terá sido: "Nossa vovó, que vestido lindo; mas também, com aquela máquina qualquer coisa fica boa!"?

Acho que não.

Pois é, muitas vezes já ouvi algo parecido. É provável que você também já tenha ouvido. Talvez até tenha dito algo do tipo:

— Nossa, que foto bonita. Mas também, com uma super câmera igual a essa é fácil!

Sem nenhuma pretensão ou indignação, quero fazer você refletir um pouco sobre isso.

A popularização da fotografia começou com as primeiras câmeras compactas da Kodak; uma revolução. Todo mundo podia ter uma câmera. Mas uma revolução maior ainda estava por vir: a da fotografia digital. Hoje, além de todo mundo ter a sua câmera digital ultra compacta, os recursos que na época do filme eram previlégios dos fotógrafos profissionais estão presentes em quase todas as câmeras, até nas mais baratas. Controle de exposição, balanço de brancos, regulagens manuais de obturador e diafragma; está tudo lá, para todo mundo.

De repente muita gente começou a tirar muito mais fotos. Um simples aniversário pode render umas 200 fotos, ou até mais.

Aí eu paro e te pergunto: nesse mar de imagens, o que diferencia um bom fotógrafo? Será a câmera de dois quilos com lentes enormes que ele exibe orgulhosamente pendurada ao pescoço? A resposta é não.

Para fazer boas fotos é necessário, antes de qualquer coisa, saber ver. É o olhar do fotógrafo que faz uma foto ser boa. Ao mirar os olhos no visor ou ao olhar para o LCD da câmera é necessário ter plena consciência de onde colocar cada objeto naquele pequeno espaço e de como as linhas, cores e formas se harmonizarão.

Fotografia é algo simples, é uma arte, a arte do olhar atento, que enxerga imagens mesmo quando não há câmera para registrá-las. É arte que você pode fazer com seu celular ou até com uma latinha de Nescau. Não há regras, há apenas bom-senso, ou melhor, o seu senso.

Pra ilustrar, vejam só alguns exemplos de fotos que eu tirei utilizando câmeras mais simples (clique sobre elas para ampliar).



Não quero fazer propaganda da Coca-Cola. Mas enfim, na ocasião ela serviu bem como primeiro plano. Nessa época eu ainda não tinha câmera digital, então emprestei uma de 2 megapixels de um amigo. Na foto estão meu tio Luciano e meu primo caçula, o Pedro, num almoço em família há alguns anos atrás. Reparem na luz lateral que inunda os copos e nos planos bem definidos (1° plano: a coca; 2° plano: os copos; 3° plano: as pessoas).



O chão tecnológico é da passarela do Shopping Muller sobre a Mateus Leme. Apoei a camerazinha digital no chão para captar a textura e conseguir um ângulo diferenciado.



Captei esse pôr-do-sol com uma câmera de filme compacta (dessas que todo mundo antes tinha; era só apertar o botão, lembram?) . O céu parecia imitar os traços de uma bela aquarela.



A textura e os defeitos dessa fotos devem-se à câmera que utilizei, uma Pen, clássico dos anos 1960, uma câmera linda, pequenininha, com um design super cult. Alguém um dia pensou que ela não serviria mais pra nada...

4 comentários:

  1. Oi Rapha!

    Nem vou falar nada, né?
    Você sempre foi o fotógrafo oficial lá na Editora, quem dirá entre a família... rs
    Sempre achei suas fotos demais, você é um fotógrafo nato mesmo... lendo seu texto fiquei pensando em como usar os recursos que você citou e ... bem, pra mim diafragma é o tal músculo que separa o peito do abdômen...rs
    Mas, enfim... quando eu fotografo procuro usar o bom senso, mas nem sempre as fotografias saem perfeitas. Acho que o negócio é praticar, né? Não dizem por aí que a prática leva à perfeição?
    Lembro até hoje que num dia daqueles terríveis de chuva aí em Curitiba, você fotografou o 'estacionamento' de guarda-chuvas da editora... aquilo foi sensacional!

    Parabéns!

    Beijo...

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  2. Fotografia é o olhar de quem a tira e a prática ajuda a "ver" um foto pronta para ser eternizada!

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  3. Gostei desse post, pois eu sempre acho que uma câmera boa faz a diferença. E vendo suas fotos com câmeras normais vi que não é bem assim. O que significa que eu sou péssima fotógrafa, hahaha!
    Na verdade acho que eu preciso estudar um pouco mais os recursos da minha maquininha. E praticar, como disse a Bi.

    Obrigada por esse post!

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  4. Nossa..Que fotos lindas, e o post, affe...nem vo fala..
    To com a consciencia pesada se ja disse (e não lembro se falei) que a foto tava bonita por causa da maquina..Desculpa se eu fiz isso. Vc é um ótimo fotografo.

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